Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 9 – Edição 85 – Agosto 2011
Barulho excessivo no Centro Cívico
Francisco Souto Neto
Correu um abaixo-assinado entre os moradores e comerciantes do Centro Cívico, pedindo às autoridades providências quanto ao ruído excessivo nos finais de semana, provocado por atos públicos diversos.
Há duas questões a considerar: a realização dos eventos e a questão do ruído. Em verdade, desde que a História nos tem legado seus registros, é o centro administrativo das cidades que acolhe as manifestações cívicas oficiais, religiosas e culturais, isto é, populares. Já na Roma dos Césares, esses atos ocorriam no Foro Romano, que era o coração da vida política, marcado pelo Arco de Sétimo Severo, localizado entre a Cúria, que abrigava as sessões do Senado, e a Rostra, a tribuna dos oradores.
Na penúltima reforma da área em frente ao Palácio Iguaçu, talvez há uns quinze anos, construiu-se uma tribuna, infelizmente desprovida de beleza, onde foram colocados três altos mastros com bandeiras, frente à qual há um espelho d’água, ou talvez seja uma bem-vinda fonte, embora com acabamento e detalhes um tanto grosseiros. Seja como for, referida tribuna evidencia os propósitos para os quais aquele local foi concebido: as manifestações cívicas.
O problema em questão reside inteiramente no abuso do som, e não nas manifestações populares propriamente ditas. Principalmente durante os atos públicos de religiões, o som em altura excessiva se inicia com os testes na noite anterior. No dia do evento, como se quisessem ser ouvidos pela cidade inteira, os religiosos fazem uma impressionante gritaria através dos seus microfones. Ouvem-se gritos misturados aos cânticos e orações.
O último evento ali ocorrido, realizado pela própria prefeitura, foi uma maratona, algo obviamente elogiável e que merece todo o apoio, até mesmo por tratar-se de um estímulo ao exercício físico e, por extensão, um assunto de saúde pública. Entretanto, o som altíssimo começou a ser ouvido às seis horas da manhã. Quem reside a um quilômetro, ou mais, da Praça Nossa Senhora da Salete, acordou-se assustado e compreensivelmente irritado. Pessoas que passem a semana trabalhando, desejam ver respeitado o seu direito de descanso aos domingos.
Não conheço o teor do abaixo-assinado, do qual tomei conhecimento apenas através de uma reportagem muito interessante realizada pela TV Iguaçu. Foi entrevistado um casal que reside nas proximidades do Shopping Center Mueller, de cuja janela avistam-se os jardins do Centro Cívico e a fachada do palácio do governo. Apesar da distância, o som dos alto-falantes alcançavam o apartamento do casal a ponto de incomodar. Fico imaginando que as pessoas que participam de tais eventos, ali bem próximas aos aparelhos de som, possam até mesmo sofrer danos em seus aparelhos auditivos.
Creio que tudo se resolverá desde que a prefeitura estabeleça um limite para o volume do som, e que este seja ligado somente entre as nove e as vinte e duas horas. Assim, as mais diversas manifestações serão bem-vindas e poderão se desenvolver livremente: a colorida passeata gay, os esforçados maratonistas, o cântico e as preces dos religiosos, e outras.
(Francisco Souto Neto – Agosto 2011)