Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 9 – Edição 84 – Junho/Julho 2011
As novas calçadas de Curitiba
Francisco Souto Neto
Há muitos anos, andando pelo centro da cidade, pisei num pequeno buraco no petit-paver e levei um tombo. No momento senti enorme dor no pé, mas me levantei e, embora mancando, cheguei ao meu carro num estacionamento a poucos metros. Comecei a dirigir rumo à minha residência. À medida em que avançava, a dor no pé direito foi aumentando enormemente. Quando já estava perto de casa descobri, em pânico, que qualquer tentativa de apertar os pedais do acelerador e do freio provocava uma dor absolutamente insuportável. A solução foi recorrer ao pé esquerdo não apenas para a embreagem, como também para o acelerador. E passei a usar o freio de mão nos momentos em que devia parar nos semáforos, porque o pé não suportava o contato com o pedal. Cada vez que puxava esse freio manual, o veículo produzia um alto ruído. Dirigindo com o máximo cuidado possível, cheguei à minha garagem em segurança. Desci do carro, porém não conseguia me mover pulando em somente um pé. A solução foi entrar engatinhando no hall do edifício, para surpresa e horror da zeladora. Claro, eu estava com o pé fraturado. Detalhe estranho e curioso: quando entrei em casa, olhei ao espelho que cobre uma parede inteira da sala. São enormes lâminas de cristal de um metro de largura cada uma delas, pela altura total da parede. Uma dessas lâminas estava partida ao meio, quase horizontalmente, mas mantinha-se no lugar graças aos parafusos que a sustentavam… Espelho e pé quebrados ao mesmo tempo.
Desde então, declarei guerra às calçadas de Curitiba. Fiz várias publicações sobre o assunto. Irregulares e cheias de buracos, transformam-se em rampas em frente à entrada de algumas garagens, quando na verdade, e por força de lei, o desnível teria que ser dentro da propriedade e não na calçada. Mas gerações e gerações de prefeitos se sucederam e a situação nunca foi corrigida. Estranhamente, é muito raro que a imprensa se refira a tais anomalias, exceção feita à revista Paraná em Páginas que, durante muitos anos, denunciou o problema e pediu providências, mas ao que parece a prefeitura nunca deu muita importância a isso.
Recentemente notei que as pedras mal buriladas e o petit-paver esburacado ou ondulado dos passeios curitibanos estão sendo substituídos por umas placas de concreto chamadas paver. Não se trata do petit-paver (pronuncia-se “petipavê) francês – cuja técnica é de origem portuguesa –, e sim do “paver” (com pronúncia em inglês, “pêiver”), que resulta numa área plana, civilizada, sobre a qual está sendo possível caminhar sem riscos. Mas há um motivo: as calçadas de Curitiba terão que ser transitáveis por causa das condições exigidas para que a cidade possa sediar a Copa do Mundo. Até que enfim as autoridades viram-se obrigadas e tornar decentes esses passeios; contudo, é uma vergonha que os mesmos estejam sendo arrumados apenas para cumprir a exigência da Copa do Mundo, quando deveriam ter sido transitáveis desde sempre. Seja como for, pelo menos teremos agora calçamento correto, e até com ajardinamentos. A novidade já está chegando ao Centro Cívico. Antes tarde do que nunca!
(Francisco Souto Neto – Julho 2011)