Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 6 – Edição 56– Setembro 2008
Os candidatos à prefeitura e a questão do metrô curitibano
Francisco Souto Neto
O transporte coletivo de Curitiba, inovador na sua concepção na década de 70, tornou-se obsoleto. As canaletas para os ônibus expressos, criadas pela competente equipe de urbanismo de Jaime Lerner na sua primeira gestão como prefeito municipal, tornaram-se um modelo para outras grandes cidades. Entretanto, no correr das décadas, em que pese a posterior criação das estações-tubo e a introdução dos cada vez mais numerosos ônibus biarticulados, o sistema derivou para a atual situação, que é de total desconforto para os usuários.
Nas eleições de 1971 e 1979, Jaime Lerner foi nomeado prefeito de Curitiba. Era o tempo dos “prefeitos biônicos”, escolhidos pelo sistema “indireto”, vigente durante a ditadura. No entanto, ele foi um administrador competente e muito aplaudido. Com o fim da ditadura e o advento da redemocratização, elegeram-no prefeito por sufrágio popular em 1989. Data de então, um fato que ficou marcado na memória de muitos: Lerner anunciou a construção do que chamou de “bonde moderno”, que funcionaria como um pré-metrô de superfície, subterrâneo na parte mais central da cidade. Esse modelo de “pré-metrô” fora utilizado com sucesso em outros lugares, como em Bruxelas, na Bélgica. O seu projeto chegou a ilustrar a capa do carnê do IPTU. Na ocasião fiz um texto elogioso ao projeto, que foi publicado no livro “Cartas a Curitiba”, obra literária idealizada e organizada pela jornalista Iza Zilli. Porém, tal projeto nunca passou de “capa de IPTU”, quando foi motivo de fugaz entusiasmo para escritores crédulos, como era eu naquela época.
O prefeito Cássio Taniguchi fez algo muito parecido: ao final do primeiro mandato, também ilustrou a capa do IPTU com o seu projeto para a construção do metrô. Esse novo projeto-fantasma, estranhamente, não atravessaria o centro da capital: as composições férreas apenas tocariam o centro, quase resvalando, à altura do local onde hoje está instalado o Shopping Estação. A desculpa pública, ao final do novo mandato, foi a de que não se obtiveram os recursos necessários para o início das obras.
Inquestionável é que Curitiba precisa, urgentemente, de um sistema de metrô, antes que o atual modelo de transporte coletivo entre em colapso. Neste contexto, é espantoso ouvir de candidatos ao cargo de prefeito, que a construção do metrô não é uma prioridade para seus programas de governo.
Por outro lado, os mais fortes candidatos mostram-se comprometidos com a construção de um sistema metroviário. A propósito, o atual prefeito Beto Richa, trouxe o assunto à baila em meados da sua atual gestão. Quanto isto veio a público, o ex-prefeito Lerner concedeu uma extensa entrevista à Gazeta do Povo, afirmando que “não será construído o metrô de Curitiba” e que tudo não passava de manobra eleitoreira. Confesso que me senti muito curioso para saber como seria o desfecho do caso. O fato é que nesta gestão, a construção do metrô realmente não foi iniciada, o que demonstra que o velho ex-prefeito urbanista parece entender muito bem do que é prometer e não cumprir. Por outro lado, a prefeitura reapresenta agora o seu projeto de metrô no “horário político”, como sendo um dos pontos mais importantes do seu programa. Ótimo!
Ótimo, e não quero raciocinar de maneira negativa, no sentido de acreditar que, mais uma vez, mentem aqueles que ora prometem. Mas uma atitude faz-se necessária aos cidadãos que não querem se sentir mais uma vez enganados: precisamos todos adquirir o hábito de cobrar aos políticos as suas promessas de campanha, logo ao início das suas gestões.
E ao final da legislatura, aplaudiremos publicamente a quem cumpre aquilo que promete. Ou nos uniremos, jornalistas e demais cidadãos, na denúncia de mais uma lamentável balela eleitoreira.
(Francisco Souto Neto – Setembro 2008)