Crônicas de FRANCISCO SOUTO NETO para o Jornal Centro Cívico
Jornal Centro Cívico – Ano 7 – Edição 64– Julho 2009
“Pesquisa dos livros do Google” e “Estante Vitual”, duas instituições em prol da Memória
Francisco Souto Neto
Há mais de dois anos, eu e minha prima Lúcia Helena Souto Martini estamos escrevendo a biografia de nosso trisavô António José Alves Souto, o visconde de Souto (1813-1880). O título do livro será Visconde de Souto – Ascensão e “Quebra” no Rio de Janeiro Imperial. Foi através de Lúcia Helena que descobri, na internet, o mais poderoso dos instrumentos para pesquisa histórica e literária, denominado “Pesquisa de Livros do Google”, que foi fundamental para que nos aprofundássemos significativamente nos registros da vida e dos feitos do nosso biografado. Estão ali digitalizadas centenas de milhares de livros de todas as épocas, podendo alguns deles ser lidos na totalidade, outros consultados em algumas páginas, ou ainda em fragmentos de página.
“Pesquisa dos Livros do Google” abre-se como um caleidoscópio de infinitas facilidades inimagináveis há apenas alguns anos, antes do advento da internet. Os estudiosos de personagens históricos tinham como caminho a busca árdua e pesada nos livros empoeirados das prateleiras das bibliotecas. Os que residiam no interior precisavam utilizar os correios para escrever às administrações das distantes bibliotecas, ou o dispendioso telefone, na procura por determinadas obras, e às vezes viajar centenas de quilômetros para pesquisar as páginas literárias in loco. E não havia, efetivamente, como descobrir em que livros determinada personalidade era mencionada. Ademais, poucos continham índices onomásticos que facilitassem as buscas. Somem-se as dificuldades de então para consultas às fontes primárias em remotas instituições como o Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional, IPHAN, IHGB e outras. Por isso, os pesquisadores das gerações anteriores podiam cometer equívocos e omissão de detalhes nos seus apanhados. Na investigação a vultos históricos pouco divulgados, podiam também não alcançar profundidade.
“Livros do Google” surgiu para ampliar em níveis colossais a facilidade da pesquisa. Deste modo eu e minha prima superamos o número de 500 livros consultados, todos contendo informações sobre o visconde de Souto, a sua casa bancária A. J. A. Souto & Cia., que ficou conhecida como Casa Souto, e a “Quebra do Souto”, nome dado à crise de 1864, quando ocorreu a falência do visconde de Souto abalando o país e repercutindo no mundo.
Paralelamente, outra magnífica instituição na internet, chamada “Estante Virtual”, complementa-se admiravelmente a “Pesquisa dos Livros do Google”. Trata-se de site que engloba cerca de 1500 sebos de norte a sul do Brasil, com mais de 20 milhões de livros à venda, onde são encontradas obras desde as comuns e baratas às raras e dispendiosas. Entretanto, o livro que num sebo custa uma fortuna, noutro poderá ser encontrado por baixo preço. Basta procurar. O processo da busca transcorre como no exemplo a seguir: “Livros do Google”, no qual se buscou “visconde de Souto”, informou a existência, dentre outros, de um livro escrito por António Manoel Lopes de Castro, denominado “José Cardoso Vieira de Castro, antes e depois do seu julgamento”, editado em 1871 pela Typographia Lusitana, Porto, Portugal, no qual se lia, nas páginas 35-36 (respeitando a ortografia vigente na época): “(…) O snr. visconde do Souto quebra seu constante isolamento para convocar a sua família a uma reunião, onde eram estranhos apenas o snr. Vieira de Castro e o conselheiro Paranhos, o primeiro diplomata brazileiro, e que, até há pouco, esteve à frente do governo provisório do Paraguay”. Procurando em “Estante Virtual”, descobri a existência de três exemplares à venda em todo o Brasil: um na Livraria Acervo Editoral, de São Paulo, por R$250,00, outro na Livraria Amorin, do Rio de Janeiro, por R$130,00 e o terceiro no Sebo Cultural SP, de São Paulo (Rua Dr. Vila Nova, 324, bairro Consolação) por apenas R$28,00. Obviamente, comprei o livro mais barato, que recebi em perfeitas condições.
Este é o fascinante caminho para a pesquisa histórica e literária no século XXI.
(Francisco Souto Neto – Julho 2009)